Como adicionar o atributo “Gender” ao Active Directory (LDIF, PowerShell, Entra ID)

Precisa adicionar um campo “Gender” ao Active Directory (AD) sem surpresas? Este guia prático mostra como planejar, testar e estender o esquema com segurança — do OID ao LDIF e PowerShell — além de governança, LGPD/GDPR e integração com Microsoft Entra ID.

Índice

Por que criar o atributo “Gender” no Active Directory

Organizações que desejam personalizar comunicações, apoiar iniciativas de diversidade e produzir relatórios confiáveis precisam de um dado estruturado, pesquisável e governado. Um atributo nativo no AD:

  • Permite filtros LDAP e automação via PowerShell/LDAP.
  • Integra-se a sistemas de RH/IAM e pipelines de provisionamento.
  • Oferece base sólida para relatórios de diversidade e inclusão.

O que você realmente precisa saber antes de mudar o esquema

  • É permanente: mudanças no schema são irreversíveis e replicam para todo o forest.
  • Impacto global: o atributo passa a existir para todos os objetos da classe escolhida (ex.: user).
  • Janela de manutenção e testes: sempre validar em laboratório e planejar replicação.
  • Privacidade: “gênero” pode ser tratado como dado sensível — ver governança e LGPD/GDPR adiante.

Valores recomendados e convenções

Padronize valores e documente-os para todas as equipes (RH, TI, apps):

ValorDescriçãoObservações
MaleMasculinoEvite traduções no atributo; use inglês para consistência técnica.
FemaleFemininoValores devem ser case-insensitive, mas normalize em maiúsculas/minúsculas.
NonBinaryNão binárioInclua e documente a semântica organizacional.
PreferNotToSayPrefere não declararÚtil para respeitar a autodeterminação de dados.

Importante: o AD não aplica enumerações nativamente em atributos de texto. A validação de valores deve ocorrer nos processos/sistemas de entrada (provisionamento, formulários, integrações).

Resumo do processo recomendado

PassoO que fazerObservações importantes
Planejar• Definir valores aceitos (Male, Female, NonBinary, PreferNotToSay).
• Reservar um OID corporativo exclusivo (ver seção OID).
• Definir classe(s) alvo (ex.: user, contact).
Mudanças de esquema são irreversíveis e se propagam a todo o forest.
Testar em laboratórioClonar um DC do schema master, aplicar o LDIF e verificar replicação com repadmin /showrepl.Nunca altere o esquema em produção sem testes prévios.
Estender o esquemaa) Entrar no schema master como membro de Schema Admins.
b) Registrar o snap‑in (se necessário): regsvr32 schmmgmt.dll.
c) Abrir Active Directory Schema (mmc /a) → AttributesCreate Attribute.
d) Criar o atributo:
  • ldapDisplayName: gender
  • Syntax: Unicode String (case-insensitive)
  • Single‑Valued
  • Range: 1‑32 caracteres
e) Associar o atributo à classe user (ou outras necessárias).
f) Forçar/aguardar replicação.
Alternativamente, importar um .ldf via ldifde -i -f ou usar extadsch.exe em ambientes que já usam Configuration Manager.
Proteger e governarDelegar leitura/escrita do novo atributo apenas a quem precisa; atualizar políticas de privacidade (LGPD/GDPR); ativar auditoria de alterações.O atributo existe para todos os objetos da classe; controle de acesso por ACL.
Integrar e validarAtualizar processos de provisionamento; validar com Get-ADUser -Properties gender e consultas LDAP; documentar e monitorar.Inclua auditoria para rastrear quem escreve o campo.

Pré‑requisitos e papéis

TópicoDetalhes
PermissõesConta membro de Schema Admins (e, idealmente, Enterprise Admins para operações correlatas).
BackupBackup de estado do sistema dos DCs críticos e schema master antes da alteração.
JanelaJanela de manutenção com comunicação ao negócio, dada a replicação em todo o forest.
AmbienteLaboratório isolado (snapshot/clone do schema master) e documentação de testes.

Planejamento de OID e nomenclatura

Cada novo atributo no AD requer um OID único. Use um OID corporativo oficial. Caso não exista, é prática comum gerar um OID derivado do seu forest com a raiz reservada pela Microsoft (ex.: 1.2.840.113556.1.8000.2554.<sequência-única>). Documente o OID e mantenha um inventário de atributos para evitar colisões.

Nomenclatura recomendada:

  • lDAPDisplayName: gender
  • adminDisplayName: Gender
  • Descrição: “User gender (Male, Female, NonBinary, PreferNotToSay)”

Criação via GUI (MMC)

  1. No schema master, registre o snap‑in: regsvr32 schmmgmt.dll.
  2. Abra mmc /aFileAdd/Remove Snap-inActive Directory Schema.
  3. Em AttributesActionCreate Attribute, preencha:
    • Common Name: Gender
    • LDAP Display Name: gender
    • Unique X.500 OID: seu OID corporativo para o atributo
    • Syntax: Unicode String (insensível a maiúsculas/minúsculas)
    • Minimum/Maximum: 1–32
    • Single-Valued: marcado
  4. Em ClassesuserPropertiesAttributes (Optional)Add → selecione gender.
  5. Confirme e monitore a replicação.

Criação via LDIF (recomendado para repetibilidade)

Substitua DC=contoso,DC=com e 1.2.840... pelos valores da sua organização:

dn: CN=gender,CN=Schema,CN=Configuration,DC=contoso,DC=com
changetype: add
attributeID: 1.2.840.113556.1.8000.2554.1234567
lDAPDisplayName: gender
adminDisplayName: Gender
adminDescription: User gender (Male, Female, NonBinary, PreferNotToSay)
attributeSyntax: 2.5.5.12
oMSyntax: 64
isSingleValued: TRUE
rangeLower: 1
rangeUpper: 32
searchFlags: 0
systemOnly: FALSE

dn: CN=User,CN=Schema,CN=Configuration,DC=contoso,DC=com
changetype: modify
add: mayContain
mayContain: gender
------------------

Importe com:

ldifde -i -f .\Gender-Attribute.ldf -k -j .\logs

Opcional (apenas se fizer sentido): indexar o atributo para buscas frequentes e/ou publicá-lo no Global Catalog:

# Indexar (searchFlags bit 1)
dn: CN=gender,CN=Schema,CN=Configuration,DC=contoso,DC=com
changetype: modify
replace: searchFlags
searchFlags: 1
- # Tornar parte do Global Catalog (Partial Attribute Set)

dn: CN=gender,CN=Schema,CN=Configuration,DC=contoso,DC=com
changetype: modify
replace: isMemberOfPartialAttributeSet
isMemberOfPartialAttributeSet: TRUE
-----------------------------------

Nota: indexação e presença no GC aumentam uso de armazenamento/replicação; avalie a necessidade real.

Validação pós‑implantação

# Confirmar existência do atributo no Schema
$schemaNC = (Get-ADRootDSE).schemaNamingContext
Get-ADObject -SearchBase $schemaNC -LDAPFilter "(lDAPDisplayName=gender)" -Properties lDAPDisplayName,attributeID,rangeUpper,isSingleValued

Verificar replicação

repadmin /showrepl
dcdiag /test\:replications

Ler/escrever o atributo em um usuário

Get-ADUser jdoe -Properties gender | Select-Object SamAccountName,gender
Set-ADUser jdoe -Replace @{gender="NonBinary"} 

Consultas LDAP típicas:

(&(objectClass=user)(gender=Female))

Contagem por valor com PowerShell:

Get-ADUser -LDAPFilter "(gender=*)" -Properties gender |
  Group-Object gender |
  Sort-Object Count -Descending |
  Select-Object Name,Count

Governança, LGPD/GDPR e segurança

  • Base legal e finalidade: documente a finalidade e a base legal (consentimento, interesse legítimo, obrigação legal, etc.).
  • Minimização: armazene apenas o necessário; permita PreferNotToSay.
  • Transparência: atualize avisos de privacidade e registros de tratamento.
  • Controle de acesso: atribua permissões de leitura/escrita do atributo “Gender” apenas a grupos/sistemas necessários.
  • Auditoria: habilite “Directory Service Changes” para registrar alterações (ex.: Event ID 5136) e monitore via SIEM.

Como aplicar ACL por atributo (exemplo prático):

  1. Abra “Active Directory Users and Computers” (ADUC), ative Advanced Features.
  2. No OU alvo, abra PropertiesSecurityAdvancedAdd.
  3. Escolha o grupo (ex.: HR-Writers), em “Applies to” selecione “Descendant User objects”.
  4. Em “Properties”, marque “Write gender” (ou “Read gender” conforme o caso).

Embora o atributo exista para toda a classe user, você pode modular a capacidade de ler/escrever por OU usando ACLs no contêiner apropriado.

Integração com Microsoft Entra ID (Azure AD) e M365

Para sincronizar o novo atributo para a nuvem:

  1. No Microsoft Entra Connect Sync (ou Cloud Sync), habilite Directory extensions e selecione gender para sincronização.
  2. O atributo aparecerá no Entra ID como uma extensão de esquema (por padrão, com prefixo extension<appId>gender).
  3. Atualize apps (Graph/PowerShell) para ler/gravar a extensão correspondente.

Exchange: se a organização já usa Exchange (local/Online), considere reaproveitar extensionAttribute1–15 para evitar alteração de esquema. Veja a seção de alternativas.

Vantagens

  • Campo estruturado, pesquisável e utilizável por scripts e filtros LDAP.
  • Melhora relatórios de diversidade e personalização de comunicações.
  • Integração consistente entre RH, IAM, e diretórios (on‑premises e nuvem).

Desvantagens e riscos

  • Extensão de esquema é permanente e replica para todo o forest.
  • Exige janela de manutenção, backup e aprovação formal (grupo Schema Admins).
  • O atributo existe em todos os objetos da classe; não é possível restringir sua existência a um único OU.

Alternativas menos invasivas

OpçãoQuando usar
extensionAttribute1–15 / customAttribute (Exchange)Se a organização tem Exchange local/Online; basta reutilizar um campo existente e renomeá-lo na aplicação.
Campos genéricos existentes (info, notes, etc.)Quando apenas armazenamento de texto livre basta e não há necessidade de filtro LDAP estruturado.
Microsoft Entra ID (Azure AD) Directory ExtensionsAmbientes híbridos ou 100% cloud que preferem manter atributos fora do AD local.
Sistemas de RH/IAM externosQuando o dado não precisa residir no AD; apenas sistemas de provisionamento leem e populam conforme necessário.

Checklist de implantação segura

  • Definir valores, OID e classe(s) alvo; aprovar em CAB (Change Advisory Board).
  • Preparar laboratório, snapshots, e plano de testes (criação/leitura/replicação/ACL).
  • Executar LDIF em lab; validar com repadmin, dcdiag e Get-ADObject.
  • Documentar ACLs por OU e grupos responsáveis (RACI).
  • Planejar janela e comunicação; realizar backup de estado do sistema.
  • Aplicar LDIF em produção no schema master.
  • Validar replicação e leitura/escrita em OUs representativas.
  • Atualizar processos de provisionamento e integrações (Entra Connect, HR, IAM).
  • Configurar auditoria e monitoramento (SIEM, alertas de alteração).
  • Remover acesso temporário ao grupo Schema Admins; encerrar a mudança.

Provisionamento e automação

Exemplo de carga inicial a partir de CSV (SamAccountName,Gender):

Import-Csv .\users_gender.csv | ForEach-Object {
  $value = $_.Gender.Trim()
  if ($value -in @("Male","Female","NonBinary","PreferNotToSay")) {
    Set-ADUser -Identity $_.SamAccountName -Replace @{gender=$value}
  } else {
    Write-Warning "Valor inválido para $($_.SamAccountName): '$value'"
  }
}

Validação contínua (bloquear valores fora do padrão):

Get-ADUser -LDAPFilter "(gender=*)" -Properties gender |
  Where-Object { $_.gender -notin @("Male","Female","NonBinary","PreferNotToSay") } |
  Select-Object SamAccountName,gender

Boas práticas de desempenho e replicação

  • Indexação: só indexe se houver consultas frequentes por gender= em grande escala.
  • Global Catalog: publicar no GC apenas se o atributo for necessário em pesquisas de floresta.
  • Sites e links: valide a replicação intersite e latência após a mudança.

Solução de problemas

SintomaCausa provávelComo resolver
“Server is unwilling to perform” ao importar LDIFConta sem Schema Admins ou alteração fora do schema master.Executar no schema master com conta apropriada.
Não consigo escrever gender em usuáriosAtributo não associado à classe user ou ACL negando escrita.Verificar mayContain da classe e permissões de “Write gender”.
Valores inconsistentes (“male”, “MALE”)Falta de padronização no provisionamento.Normalize no ponto de entrada (scripts, HR, integrações).
Latência de replicação elevadaGC e/ou indexação habilitados sem necessidade; topologia de sites limitada.Reavaliar GC/indexação; revisar agendamentos e custos de site.

Perguntas frequentes (FAQ)

É possível remover o atributo depois?
Na prática, não. Você pode parar de usá-lo, mas a definição permanece no esquema do AD.

Posso restringir o atributo a um único OU?
Não quanto à existência; o atributo existe para toda a classe. Entretanto, você pode controlar quem lê/escreve por OU via ACL.

Como testar sem impactar produção?
Use laboratório com clone/snapshot do schema master; aplique LDIF e valide com repadmin e scripts.

É melhor usar extensionAttribute1–15?
Se você já usa Exchange e não precisa de um nome de atributo dedicado no esquema, essa é uma alternativa sem extensão de schema.

Como levar o atributo para a nuvem?
Habilite Directory extensions no Microsoft Entra Connect/Cloud Sync e selecione gender.

Resumo prático

  • A única forma nativa de ter um atributo “Gender” no AD é estender o schema.
  • Por ser definitivo, avalie alternativas (extensionAttribute1–15, extensões no Entra ID, campos genéricos) antes.
  • Se indispensável, siga processo controlado: laboratório → backup → execução por Schema Admins → validação → governança contínua.

Modelo de runbook (copiável)

1) Aprovação (CAB) e design:
   - Valores e semântica
   - OID e nomenclatura
   - Classe(s) alvo: user/contact
   - ACLs de leitura/escrita
   - Necessidade de indexação/GC

2. Preparação:

   - Lab com clone/snapshot do schema master
   - Backups de estado do sistema
   - Scripts LDIF/PowerShell versionados

3. Execução em lab:

   - Importar LDIF
   - Associar à classe
   - Testar leitura/escrita e ACLs
   - Validar replicação (repadmin/dcdiag)

4. Produção:

   - Janela e comunicação
   - Executar LDIF no schema master
   - Confirmar replicação
   - Testes de fumaça (criar/ler/filtrar)

5. Pós-go-live:

   - Monitorar eventos de alteração
   - Habilitar Directory Extensions (se houver sincronização)
   - Remover membros temporários de Schema Admins
   - Atualizar documentação e CMDB 

Exemplos de mapeamentos para integrações

OrigemTransformaçãoDestino
HR API genderCode1→Male, 2→Female, 3→NonBinary, 9→PreferNotToSayAD user.gender
AD user.genderDireto (sem transformação)Entra ID extension<appId>gender
AD user.genderUppercase para comparaçãoFerramenta de e‑mail segmentado

Boilerplate de comunicação ao negócio

Resumo: inclusão do atributo “Gender” no AD para personalização e relatórios de diversidade. Impacto: sem downtime para usuários; replicação transparente. Privacidade: dado visível apenas para equipes autorizadas; opção “PreferNotToSay”. Contato: time de Identidade/IAM.


Conclusão: adicionar o atributo “Gender” ao Active Directory é uma mudança estratégica e definitiva. Com um planejamento sólido (valores, OID, ACLs), testes em laboratório e execução controlada (LDIF/GUI), você habilita automação e relatórios confiáveis, preservando segurança e privacidade.

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